domingo, 23 de janeiro de 2011

CENTRO ESPORTIVO UBAENSE


O CEU é logo ali
Empresário monta estrutura para formação de jogadores de futebol em Ubá e impressiona pelo profissionalismo da empreitada
Wallace Mattos
Repórter
Quem acompanha o futebol da região sempre diz que nela há um grande potencial para a revelação de jogadores. Com poucas opções para trabalhar e desenvolver as jovens promessas, muitos dos talentos da Zona da Mata acabam desperdiçados, relegados ao futebol amador. Em Juiz de Fora, Tupi, Sport e Tupynambás lutam contra a precariedade de suas estruturas, tentando manter minimamente suas categorias de base em funcionamento.
Mas, por causa do sonho de um empresário de Ubá, cidade a 100km de Juiz de Fora, a situação dos jovens atletas que têm talento para alçar voos maiores começa a mudar. Em setembro de 2010, a Zona da Mata ganhou o Centro Esportivo Ubaense (CEU), um local com área de 100 mil metros quadrados todo equipado e voltado para a formação de jogadores desde seus primeiros passos com a bola até os 15 anos.
Idealizador e financiador da construção do CEU, o empresário do ramo moveleiro Paulo Paschoalino, 57 anos, diz que a ideia surgiu da vontade de ver os talentos da região se desenvolverem em um ambiente ideal. Jogador do Industrial e do Aymorés nos tempos áureos do futebol ubaense, Paschoalino é boleiro de carteirinha e até hoje joga três peladas por semana. "Cada um tem uma cachaça e, no meu caso, é o futebol", confirma o empresário.
"A partir do momento que comecei a perceber que existem talentos em nossa região que estavam sendo desperdiçados, principalmente por falta de condições para esses garotos, surgiu a vontade de ajudar", conta Paschoalino. "Percebi que o menino, quando sai de uma cidade do interior, como a nossa, muitas vezes fica inibido pela estrutura ou não tem condições de preparação física e técnica como os jogadores de grandes centros e, mesmo que seja bom de bola, acaba ficando abaixo da média. O sonho foi esse: poder fazer alguma coisa para ajudar a desenvolver esses talentos", conta.
Coisa de maluco
A partir de então, Paulo fez do próprio bolso, com a ajuda do irmão Domingos, o investimento necessário - os valores ele não revela -, que acabou maior do que o próprio empresário planejara. "A construção começou há três anos. Vislumbrei a possibilidade de fazer um campo de futebol para colocar os meninos, dar treinamentos, começar o trabalho. Mas, achei essa área e percebi a possibilidade de ampliar isso. Fiz então uma visita ao Tigres do Brasil (que possui um moderno centro de treinamentos em Xerém, na Baixada Fluminense), me encantei com a estrutura e quis algo parecido. Era um sonho."
Paschoalino também teve contato com o pessoal do Cruzeiro. O presidente da Raposa, Zezé Perrella, achou que o empresário havia perdido o juízo. "Ele me disse que eu era maluco de fazer isso aqui em Ubá. Mas, me perguntou o que eu queria. Falei para ele que, por enquanto, nada. Mas, no futuro, iríamos conversar", lembra Paschoalino.
Com a estrutura básica pronta, o diretor-presidente do Ubaense Futebol Clube, dono do CEU, teve um novo desafio. "Já poderia ter iniciado os trabalhos há dois anos, mas não quis enquanto essa gestão não fosse definida. Tinha uma preocupação grande com a qualidade. Quem iria dar sequência ao trabalho após o Centro estar funcionando? Como seriam os treinamentos? Quem seriam os técnicos, preparadores físicos, o pessoal de administração? Quais seriam as categorias a serem trabalhadas? Essas eram as questões colocadas", conta Paulo.
A parceria com um professor universitário de renome e a Universidade Federal de Viçosa (UFV) resolveu as questões de administração do CEU. "Conheci o professor Próspero Paoli, da UFV, com toda sua experiência. Eles nos mandou um projeto, e chegamos a um acordo. A partir desse momento, tive a tranquilidade de colocar o CEU nas mãos de uma pessoa que formou treinadores como o técnico da Seleção Brasileira sub-20, Ney Franco", conta Paschoalino.
"Não fazíamos ideia de que isso aqui existia até que, no ano passado, viemos a Ubá fazer alguns amistosos com um dos times de base que a Universidade coordena. Chegando aqui, conhecemos o Paulo e nos interessamos. Elaboramos o projeto, o professor Próspero enviou e deu certo", completa o gerente administrativo do centro de treinamento (CT), Matheus Ornelas, 27 anos, graduado em educação física pela UFV.
Foco na garotada e olho no futuro
Hoje, dentro da vasta área no Bairro Mangueiras Rural, existem dois campos de futebol
oficiais - um com medida de 102m x 70m com grama esmeralda e outro de 102m x 68m de grama batatais - e caixa de areia, exclusivos para treinamento, além de dois espaços para futebol society - um com grama natural, e outro, sintética -, anexos à área de lazer com bar
e churrasqueiras, que podem ser alugados para eventos. Também estão em construção as arquibancadas do estádio do Ubaense, que será nomeado em homenagem a Domingos Paschoalino, irmão de Paulo, e, quando terminado, terá capacidade para cerca de 5 mil torcedores. Abaixo das arquibancadas ficarão o refeitório, a academia de ginástica e o dormitório. No mesmo espaço já estão em pleno funcionamento amplos vestiários, sendo o do time da casa equipado com rouparia.
As obras no CEU não vão parar tão cedo, já que há outros projetos que sairão do papel em breve, e seu diretor-presidente está buscando parceiros. "Precisamos manter contato com os clubes, principalmente em um raio de 300km, para que haja parcerias. A partir de fevereiro, começamos a construir um novo campo, com o tipo de grama mais moderno, aprovado pela Fifa. E, esse ano ainda, ficarão prontos o ginásio e o hotel. Eles já têm projetos aprovados", explica Paschoalino.
Os principais beneficiados com toda essa estrutura são os garotos. Hoje, 130 meninos das categorias sub-12, sub-13, sub-14 e sub-15, treinam de terça a sexta, na parte da tarde, e sábado pela manhã no local. "Na primeira peneira que realizamos aqui, em setembro, foram avaliados 587 garotos. No último dia 15, outros 120 apareceram. Nossa ideia é sempre fazer duas peneiras por ano, em janeiro e julho. As outras formas de entrar para os quadros das equipes são através de parceiros, observadores com quem temos contato constante em outras cidades, ou clubes com os quais faremos parcerias. Hoje, o Cruzeiro é o principal deles", explica Ornelas. "A intenção não é formar um time profissional", avisa Paschoalino. "É claro que pode ser que a situação mude futuramente, mas, hoje, o CEU é voltado somente para a base. Até porque um time de profissionais tem um custo muito alto."
Para treinar no CEU, os alunos são levados até o local por dois ônibus, um que sai da rodoviária de Ubá e outro que percorre os municípios vizinhos, saindo de Viçosa, indo até Tocantins e retornando até o CT. "O garoto só traz chuteira e caneleira. O resto do material é nosso. Fornecemos camisas, calções e meiões. Durante o treino, há reposição hídrica constante, já que o clima de Ubá é bastante quente e, após as atividades, um lanche com frutas para a reposição de nutrientes. Tudo elaborado para maximizar os ganhos do atleta."
Para desfrutar desta estrutura, tem que andar na linha. "Temos uma cartilha, que é entregue a todos, com normas de comportamento dentro e fora do CT. Além disso, acompanhamos as notas escolares de cada um. Caso haja alguma dificuldade, conversamos com os pais e há psicólogos e outros profissionais para ajudar, através de um convênio que temos com a Faculdade Governador Ozanan Coelho (Fagoc)", explica Ornelas.
Contando as áreas de treinamento e administração, o CEU conta com dez profissionais, todos egressos da Faculdade de Educação Física da UFV. "Trabalhamos todos dentro da mesma filosofia de treinamento, e cada técnico sobe com sua categoria. Ou seja, não é preciso o garoto se adaptar a outro estilo de comando durante sua formação conosco", explica Ornelas.
Formar e encaminhar
A ideia é que o CEU forme o jogador e o encaminhe a clubes parceiros. "Fazemos toda essa parte de treinos dos 11 aos 15 anos. Depois, o atleta será direcionado a um clube que estiver interessado. Achamos melhor estabelecer essa idade como limite porque, a partir daí, fica mais difícil de o garoto ingressar nas categorias de base de clubes maiores. É também a época na qual começam a ser assinados os primeiros contratos", diz Ornelas.
Para o futuro, o percentual que o clube receber como formador de atleta em futuras negociações de jogadores criados no CEU será investido na gestão do CT. "Quando você monta um centro de treinamento, não pode ser imediatista. A gente espera que possa surgir um talento de exceção. A ideia é que o local se torne autossustentável no futuro. Mas, também sei que a estatística de jogadores que saem de centros como o nosso e se tornam profissionais é muito pequena. Por isso, é um projeto nos sustentarmos desse jeito, mas hoje estamos preocupados em ajudar", diz Paschoalino.

Estrutura é o começo
Quem sente de perto a diferença de trabalhar em um local como o CEU desde seu início sabe que vive uma situação de exceção e quer mais. "Temos todo o material que solicitamos, os campos são fantásticos, e o espaço está cada dia melhor equipado. Então, começou no caminho certo e, se continuar nesse rumo, vai chegar rápido a um nível de excelência", confia o técnico substituto do time sub-14, Leonardo Chered, 27 anos.
Já há atletas se destacando do grupo e chamando a atenção de clubes grandes. "Estou aqui desde setembro. Fiquei sabendo da peneira, vim e fui aprovado. No fim do ano, estive no Cruzeiro e passei nos testes. Acho que não senti diferença, porque lá é bem parecido com o nosso CT. Acredito que vou ter o mesmo desempenho quando for de vez para lá", acredita o lateral-direito Cassiano Resende, 13 anos, que passou nas avaliações da Raposa, será monitorado pelo clube de Belo Horizonte, mas continuará treinando no CEU até poder se juntar de vez ao elenco da base celeste.
Contatos do CEU
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